Ninguém pode ser tachado de incoerente só por negar a existência do
Inferno, onde (de acordo com o Cristianismo bíblico) o diabo, os demônios e os
humanos que se perderem serão atormentados eternamente. Cheguei a esta
conclusão à base do seguinte raciocínio: Já que ninguém é obrigado a ser
cristão, então ninguém é obrigado a crer que o Inferno existe. Todavia, aquele
que se diz cristão, mas não admite o Inferno como real, é, sim, incoerente. Por
exemplo, ninguém é obrigado a reconhecer Maomé como Profeta de Alá, mas é
impossível ser muçulmano sem admitir isso. Deste modo, o fato de o Kardecismo
rechaçar a ideia da pena eterna, e, concomitantemente, se dizer cristão, denota
que essa seita é um sistema discrepante, não sendo, pois, uma instituição
cristã; já que Cristo, o fundador do Cristianismo, falava coisa com coisa.
Embora o propósito primário deste livro não seja uma apologia ao
Cristianismo bíblico, mas apenas demonstrar que o Kardecismo é hipócrita por se
dizer cristão sem arcar com as implicações desta postura, neste capítulo
argumento que a crença na pena eterna não é incompatível com a bondade de Deus.
Seria, se Deus, além de bom, não fosse também justo e santo.
A empreitada do presente capítulo, bem como de todo este livro, é
hastear as incoerências Kardequianas, tornando-as bem visíveis. Talvez isto
contribua para livrar alguém de percorrer esse caminho que também conduz ao
Inferno.
Provo nesta obra que a realidade do Inferno é uma doutrina do
Cristianismo histórico, e que, sendo assim, é incoerência se dizer cristão sem
aquiescer a este fato. Então, o Kardecismo é incoerente.
Sintetizando o que Allan Kardec escreveu em seus livros (principalmente
no livro intitulado “O Céu e o Inferno”), no seu inglório afã de “provar” a
inexistência do Inferno como um lugar de suplício eterno, digo, com minhas
palavras, que as “razões” por ele apresentadas são as seguintes: “O castigo
eterno não existe porque:
a) Jesus jamais se referiu ao suplício eterno;
b) É contrário ao bom senso;
c) É repugnante à justiça;
d) É oposto ao amor de Deus;
e) É uma desonra ao Deus amoroso”
Refutarei às objeções supra, na mesma ordem acima apresentadas:
5.1. Jesus jamais falou de suplício eterno
Não é necessário provar que os kardecistas negam a existência do
Inferno, porquanto eles não escondem isso de ninguém. Kardec entendia que
Jesus, em consequência do atraso inerente aos espíritos de seus contemporâneos
que, por isso mesmo, não estavam à altura de entender a verdade sobre este
assunto, absteve-se de fazê-lo. Jesus, segundo Kardec, não disse
que não há suplício eterno, mas também não afirmou que haja. É que Ele sabia
que com o tempo isso passaria. Senão, vejamos:
“Jesus encontrava-se, pois, na impossibilidade de os iniciar no
verdadeiro estado das coisas; mas não querendo, por outro lado, com sua
autoridade, sancionar prejuízos aceitos, absteve-se de os retificar,
deixando ao tempo essa missão. Ele limitou-se a falar vagamente
da vida bem-aventurada, dos castigos reservados aos culpados, sem referir-se
jamais nos seus ensinos a castigos e suplícios corporais, que constituíram para
os cristãos um artigo de fé” (O Céu e o Inferno. Federação
Espírita Brasileira: 1ª parte, capítulo IV, nº 6, página 43. Grifo meu).
Pelo que me consta, Jesus jamais deixou de ensinar quaisquer verdades, em
respeito aos preconceitos, ignorância e tradições existentes nos dias de Seu
Ministério terreno: assentou-se à mesa com os publicanos (Mt 9:11; Lc.15:1-2);
mandou um homem transportar a sua cama em dia de sábado (Jo.5:8-13); foi de
encontro às tradições dos anciãos (Mt 15:1-11); falou a uma mulher
samaritana (Jo.4:9,27); declarou Sua igualdade com Deus (Jo 5:18); exigiu
para Si as honras reservadas exclusivamente para Deus (Jo 5:23); e disse ser um
com Deus (Jo 10:30), o que equivale a dizer que Ele é Deus (Jo 10:31-33).
[Ora, os judeus erraram ao pensar que Jesus estava blasfemando por se fazer
Deus, mas acertaram por interpretar a firmação “Eu e o Pai somos um” como
equivalente a “Eu sou Deus” (confere com Jo 10:31-33)]. Os kardecistas,
naturalmente me rebatem citando Jo. 16:12, onde Jesus teria “deixado de
ensinar algo que os apóstolos ainda não podiam suportar naquela época, devido
às imperfeições de seus espíritos”. Mas o contexto demonstra não ser este o
caso, visto que dentro de poucos dias após, o Consolador veio e os guiou em
toda a verdade. Logo, segundo o próprio Cristo, os apóstolos receberam a
Doutrina completa, já que, segundo a Bíblia, o Consolador que lhes daria
maiores revelações tão logo viesse, veio dentro de um período de tempo inferior
a dois meses e os guiou a toda a verdade. Ademais, não é de se duvidar que
Cristo se referia apenas às perseguições que eles, os apóstolos, iriam
enfrentar, as quais produziriam até mártires. Certamente não era prudente dizer
a Pedro que ele seria um dia crucificado de cabeça para baixo; a Tiago, que ele
seria decapitado; a Tomé, que ele seria transpassado por uma flecha e assim por
diante. Bem, a que segredo se referia Jesus em Jo 16:12: Às perseguições que os
apóstolos enfrentariam? A maiores revelações da parte de Deus, revelações estas
que redundariam na composição do Novo Testamento? Ou Ele se referia a estas
duas coisas? Seja como for, a Bíblia é clara: Os apóstolos receberam o
Consolador e, por conseguinte, foram guiados a toda a verdade, bem como habilitados
a testificar de Cristo incondicionalmente.
O fato de Jesus afirmar que “ainda tenho muito que vos dizer, mas vós
não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele
vos guiará em toda a verdade” é, segundo os kardecistas (como vimos acima),
prova cabal de que naquela época a Humanidade ainda não estava preparada para
receber toda a verdade, e que, por isso mesmo, Jesus deixou claro que no devido
tempo Deus daria à Humanidade uma revelação maior do aquela mediada por Cristo.
Acontece, porém, que Jesus não disse assim: “ainda tenho muito que vos
dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando estiverdes preparados,
Eu vos darei outro Consolador que o dirá ”. Logo, os discípulos não tinham
que evoluir para receberem o Consolador, e sim, receber o Consolador para se
habilitarem a maiores revelações. Ademais, vimos no capítulo 3 que, segundo a
Bíblia, o Consolador veio no século I.
Embora eu não queira ombrear os que não veem em Jesus mais que “um
grande filósofo, um grande idealista, um revolucionário político, um grande
defensor dos direitos humanos, um grande defensor dos pobres” e assim por
diante, reconheço que a mensagem do Cristo causou tão grande impacto nos seus
contemporâneos que estes (na sua maioria), rejeitaram-no; e que, não obstante,
Ele não arredou o pé: expôs os charlatões publicamente (Mt 21:12,13), falou a
verdade com autoridade jamais vista (Mt. 7:29), possibilitando ao povo ouvir
algo inédito (Jo. 7:46). Isto nos convence que as dissertações de Allan Kardec
em torno da postura de Cristo sobre o Inferno, são meras palavras ocas. Cristo
falou sim, senhor Kardec, do castigo eterno; e não o fez de modo vago, mas
claro. Disse Jesus:
·
“Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da
condenação do inferno?” (Mt 23:33 );
·
“… vem a hora em que todos os que estão nos
sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição
da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação”. (Jo 5:28, 29);
·
“… Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo
eterno, preparado para o diabo e seus anjos. E irão estes para o tormento
eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt 25:41, 46);
·
“Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes
Abraão, e Isaque, e Jacó e todos os profetas, no reino de Deus, e vós lançados
fora” (Lc 13:28);
·
“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a
criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será
condenado” (Mc 16:15, 16).
Repito: Cristo falou sim, do castigo eterno; e não o fez de modo vago,
mas claramente, como acabamos de ver.
5.2. É Contrário ao Bom Senso.
Para sabermos se existe ou não o castigo eterno, não podemos nos limitar
à consulta do “bom senso”; de outro modo poderíamos fazer acerca da existência do
Inferno as seguintes afirmações:
a) Existe realmente;
b) Não existe realmente;
c) Não sabemos se existe ou não.
Por que? Porque encontramos pessoas igualmente inteligentes que fazem,
de per si, estas afirmações, alegando todas contarem com a corroboração do bom
senso. E aí? Qual das três opiniões é a correta?
Para pronunciar positiva ou negativamente sobre a existência da pena
eterna, ninguém está melhor credenciado que o Senhor Jesus Cristo, os profetas
e os apóstolos. Ouçamo-los:
Jesus:
Vimos no sub tópico anterior (5.1) cinco trechos bíblicos nos quais Jesus
aparece falando sem rodeios do suplício eterno, ou seja, falando do Inferno. E
muitos outros versículos eu poderia citar. Todavia, por ora fiquemos só com
aqueles, visto os mesmos nos bastam para nos convencer que Cristo falou sim, do
castigo eterno; e que não o fez de modo vago, mas claramente.
Apóstolo João:
·
“E o diabo que os enganava, foi lançado no lago de
fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão
atormentados pelos séculos dos séculos” (Ap 20:10 ).
“E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado
no lago de fogo” (Ap 20:15).
Apóstolo Paulo:
·
“Os quais sofrerão, como castigo, a perdição
eterna, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2 Ts. 1:9).
Autor da Epístola aos Hebreus:
·
“Como escaparemos nós, se descuidarmos de tão
grande salvação?…” (Hb 2:3a );
·
“Porque se voluntariamente continuarmos no pecado,
depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais
sacrifício pelos pecados, mas uma expectação terrível de juízo, e um ardor de
fogo que há de devorar os adversários. Havendo alguém rejeitado a lei de
Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas ou três testemunhas; de
quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o
Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com que foi santificado,
e ultrajar ao Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: Minha é a
vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrenda
coisa é cair nas mãos do Deus vivo” ( Hb 10:26-31 );
Daniel:
·
“E muitos dos que dormem no pó da terra
ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo
eternos” (Dn 12:2).
João Batista:
·
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém,
desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3:36).
5.3. É Repugnante à Justiça
O que é justiça? O extinto programa de TV intitulado “Você Decide” é um nítido
exemplo do quanto a consciência humana está atrofiada, e, portanto,
impossibilitada de decidir por si só entre o justo e o injusto: milhões de
pessoas diziam “sim” e milhões diziam “não”. E agora José? Se alguém se
achar no direito de fazer lei de uma dessas afirmações, não poderá impedir que
um outro faça lei da que sobrar, porquanto, embora divergentes entre si, ambos
têm, de per si, milhões de simpatizantes. Assim fica claro que o homem
necessita duma unidade padrão, com a qual possa gabaritar suas palavras e
obras, bem como se certificar da autenticidade ou não de tudo aquilo que se
intitula justiça. E esta unidade padrão, segundo nos informaram os homens
santos de Deus e o próprio Jesus, existe: é a Bíblia. Senão vejamos:
Jesus:
·
“Errais, não conhecendo as Escrituras…” (Mt 22:29);
·
“… a Escritura não pode ser anulada” (Jo 10:35);
·
“…as Escrituras… dão testemunho de mim” (Jo. 5:39);
Isaías:
·
“À Lei e ao Testemunho! Se eles não falarem segundo
esta palavra nunca verão a alva” (Is 8:20);
Apóstolo Paulo:
·
“Escrevo-te estas coisas … para que saibas como
convém andar …” ( I Tm 3: 14,15 );
·
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Tm 3:16);
Apóstolo Pedro:
·
“Sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia
da Escritura provém de particular elucidação, porque jamais qualquer profecia
foi dada por vontade humana, entretanto homens santos falaram da parte de Deus
movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe. 1: 20, 21).
Está claro, é a Bíblia que dá a primeira e última palavra em todos os
setores da nossa vida. Temos algo incomparavelmente mais confiável do que as
falíveis razões humanas: a Bíblia, a Palavra de Deus.
Se mal interpretado, o que foi apresentado até aqui pode levar um leitor
desavisado a concluir precipitadamente que o autor destas linhas discorda do
uso da razão. Mas não é este o caso. Eu raciocino sim. De outro modo eu não
teria detectado as contradições do Kardecismo, e talvez já até tivesse me
convertido a essa seita.
O fato de Cristo dizer que “nem um jota ou um til, se omitirá da lei,
sem que tudo seja cumprido” (Mt 5:18), justifica o título honorífico de “sagradas
letras” (2 Tm. 3:15) que o apóstolo Paulo atribuiu à Bíblia.
Até a sabedoria popular já externou a sua opinião acerca da
inconsistência das nossas imaginações falíveis, ao dizer: “a cada cabeça uma
sentença”.
No livro intitulado “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,
supracitado, capítulo 5, nº 21, páginas 115-116, está contida uma exortação a
não avaliarmos a justiça divina pelos nossos suspeitos padrões. Diz o texto: “Por
que haveis de avaliar a justiça de Deus pela vossa?”. Assim o
Kardecismo destrói-se a si mesmo.
5.4. É Oposto ao Amor de Deus.
O que a Bíblia afirma com muita clareza, é que realmente existe a pena
eterna e que Deus é, inegavelmente, amor. Se temos dificuldades para
compreendermos o porquê da severidade de Deus para com o pecado, o problema
deve estar em nós. O próprio Kardecismo diz: “Por que haveis de avaliar a
justiça de Deus pela vossa?”
Talvez a passagem bíblica que mais enfatiza, simultaneamente, a perdição
eterna e o amor de Deus, seja Jo 3:16. Este versículo diz: “Porque Deus amou
o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que
nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Ora, se Deus nos deu Seu
Filho para não perecermos, está provado que Ele viu que se não no-lo desse,
pereceríamos inevitavelmente; e, visto que Ele realmente é amor, e, portanto,
não deseja esta tamanha catástrofe para nós, tomou medidas drásticas e radicais
contra o pecado, em defesa do pecador. Este texto bíblico (Jo.3.16) nos
assegura que Deus nos deu o Seu Filho com a seguinte finalidade: Nos livrar de
perecer e, por conseguinte, nos dar a vida eterna. A esta altura eu
pergunto aos kardecistas: O que é perecer? Vejam que estava para nos suceder
uma desgraça; o nome dessa desgraça é perecer; e que Deus nos deu o Seu Filho
Jesus para anular essa tal desgraça. Se não existe a pena eterna, a que
desgraça se refere Jo 3:16? Se todas e quaisquer faltas pudessem ser reparadas
através de boas obras e sofrimentos, nesta e/ou noutra (s) encarnação (ões),
neste e/ou noutro (s) mundo (s), asseguro que não haveria necessidade de Deus
nos dar o Seu Filho unigênito para nos livrar de perecer, pois já teríamos em
nós mesmos a solução desse inconveniente: a caridade e as vicissitudes da vida.
Logo, Deus nos teria dado o Seu Filho em vão.
Se o sacrifício de Jesus não quita para com Deus o pecador que
arrependido crer, segue-se que a vinda de Cristo ao mundo foi inteiramente
ineficaz e inoperante, não tendo, portanto, produzido nenhum efeito positivo
sobre nós, porquanto ainda estamos sujeitos a tudo quanto estaríamos, se Ele
não tivesse vindo em nosso auxílio, a saber, ainda temos que expiar os nossos
pecados através das boas ações + sofrimentos. Acontece, porém, que Jesus Cristo
disse “que todo aquele” (o que equivale a dizer: seja lá quem for) “que
nEle crê ” não perecerá, mas terá “a vida eterna”. O que é
“não perecer”? O que é “ter a vida eterna”? “Não perecerá” significa que não
sofrerá a pena eterna? Mas para que nos daria Deus o Seu Filho para nos livrar
da pena eterna, se esta não existisse? Há! “Não perecerá” significa que o
crente não terá que sofrer as consequências dos seus pecados? Como não, se Allan
Kardec disse que o homem não se livra de pagar o que deve, nesta ou noutra
encarnação, neste ou noutro mundo? Respondam-me, ó kardecistas, o que é o “não
pereça” a que Jesus fez menção? Está claro, quem crer vai se livrar de uma
coisa ruim chamada perecer. Essa coisa ruim não seria uma pena eterna, pois
esta não existe (segundo o kardecismo); também não é deixar de sofrer uma pena
temporal, isto é, uma pena por um tempo determinado, até que o pecador expie as
suas culpas, pois segundo o kardecismo, o homem sofrerá inevitavelmente as consequências de suas faltas. Então, que é o “não pereça”?
É digno de nota que o “não pereça”, está em oposição com o “tenha a vida
eterna”, o que por si só já nos informa que quem não perecer terá a vida
eterna, e que quem não tiver a vida eterna, irá perecer.
Uma vez que nós (os evangélicos) e os kardecistas cremos na imortalidade
da alma, e por “vida eterna” entendemos uma existência feliz com Deus para
sempre, “pereça” não seria uma existência consciente, sem Deus, infeliz, para
todo o sempre? Se o leitor é kardecista, por certo está pensando: “Não pode
ser, pois Deus é amor!” Mas aí eu lhe pergunto: O fato de Deus nos ter dado
o Seu Filho unigênito para nos livrar da pena eterna, à qual estávamos
sentenciados, não é, porventura, uma grande prova de amor? Sendo a pena, eterna
ou não, ao nos dar Deus o Seu Filho para nos livrar dessa pena, Ele prova o Seu
imensurável amor por nós, você não acha? E se Deus nos deu o Seu Filho para nos
livrar da pena, ainda que esta não fosse eterna, estaria extinta por Jesus,
continuando Allan Kardec a assumir o sacrílego posto de falso profeta,
considerando que muitos anos após Deus nos ter dado o Seu Filho para nos
salvar, ele (Allan Kardec) escreveu o seguinte:
a) “… O sofrimento é inerente à imperfeição,
assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis …” (O Céu e o Inferno, capítulo
VII, nº 33, página 100. Grifo meu);
b) “Toda falta cometida, todo mal realizado é uma
dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em uma existência, sê-lo-á
na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si,…
(Idem, capítulo VII, nº 9, página, 91).
Por que é inevitável as consequências das nossas faltas, se Deus nos
amou de tal maneira que nos “deu o Seu Filho unigênito para que” ao nEle
crermos deixemos de perecer e tomemos posse da “vida eterna”?
Quando o Senhor Jesus Cristo mandou pregar o Evangelho a todas as
pessoas, assegurou que “quem crer e for batizado será salvo”; e que “quem
não crer será condenado” (confere Mc 16:15,16). Logo, os kardecistas
precisam saber o seguinte:
a) O Senhor Jesus salva (Hb 7:25; At 10:43;
2:48; Mc 2:9; Ef 2:5, 8, 9; I Jo 1:7; Rm 3:23-28; Rm 6:23; 8:1);
b) Quem crê em Jesus não perece, tem a vida
eterna, é salvo e não é condenado. E que significa ter a vida eterna, ser
salvo, não perecer, e não ser condenado?
Se não há pena eterna, e sim a inevitabilidade duma punição que termina
tão logo o penitente pague o que deve através das boas obras e das aflições da
vida, nesta e/ou noutra (s) encarnação (ões), pergunta-se: Quem crer no
Evangelho será salvo de quê? E quem não crer será condenado a quê? Sim, se
existe a inevitabilidade das consequências das faltas, quem crer será salva de
que? Igualmente, se não há pena eterna, e sim a inevitabilidade duma pena
passageira, quem não crer no Evangelho será condenado a quê, visto que a pena
passageira nós sofreremos inevitavelmente, crendo ou não no Evangelho, como o
insiste o Kardecismo?
Eu estou apelando para a Bíblia, e os kardecistas devem considerar isto
relevante, pois como já sabemos, Allan Kardec recorre à Bíblia frequentemente.
Para saber isto, basta ler seus livros. Quem examina as obras do Kardecismo
sabe que a literatura kardequiana está recheada de textos bíblicos. Claro, já
vimos no capítulo 2 que Kardec o fazia com segundas intenções, mas, de um jeito
ou de outro, isso nos confere o direito de também irmos à Bíblia, para
certificarmos se de fato a Bíblia dá ao Kardecismo o apoio que essa seita alega
receber do Livro dos livros. Sim, já que Allan Kardec invocou o testemunho
bíblico, vejamos o que a testemunha tem a dizer. Ouçamo-la!
5.5. É Uma Desonra ao Deus Amoroso.
Já informei que o Kardecismo prega que a crença na existência do
tormento eterno desonra o Deus amoroso. Porém, a verdade é diametralmente
oposta. A severa punição eterna, aplicada sobre o pecado, por si só demonstra
quão hediondo crime o pecado é; o que, por sua vez, testifica da magnificência
de Deus, bem como da magnitude da Sua Lei. Sim, isto exibe com naturalidade a
magnificência de Deus, cuja Lei justa, santa e boa não pode ser ultrajada sem
horríveis consequências. O pecado, por ser contra Deus, o qual é infinito em
todos os Seus atributos: justiça, santidade, bondade, etc., é um crime de
hediondez infinita que reclama punição infinda. Uma punição dosada
(deficiências físicas, doenças, pobreza… e outras desventuras), como a sugerida
pelos kardecistas, seria algum tipo de misericórdia e afrouxamento da justiça
divina, o que só ocorrerá no dia em que Deus deixar de ser Deus. Mas, como o
Senhor é Deus de eternidade a eternidade (Sl 90.2), isto é, de um passado
infinito a um futuro infindo, o fogo que se acendeu na Sua ira (Dt. 32:22)
jamais apagará; o que perpetua infinitamente o tormento dos perdidos.
Lembremo-nos que “o juízo será sem misericórdia” (Tg. 2:13).
O tormento eterno não é contrário ao amor de Deus, mas sim, oposto às
consciências cauterizadas (1 Tm. 4:2) dos homens naturais que, por isso mesmo,
não podem compreender as coisas do Espírito de Deus, por lhes parecerem loucura
(1 Co. 2:14).
Os Kardecistas também creem que Deus fará justiça punindo o pecado. O
que eles não admitem é que a punição seja tão severa. Todavia, o castigo do
pecado terá a duração que Deus julgar necessária, e não a que gostaríamos que
tivesse.
Não nos deve causar estranheza o fato de os padrões da justiça divina
não coadunarem com os nossos pontos de vista. Até os livros de Allan Kardec nos
exortam, como já informei acima: “Por que haveis de avaliar a justiça de
Deus pela vossa?”. Este conselho foi dado por um demônio a Allan Kardec,
mas os kardecistas fariam bem, em acatá-lo. Neste ponto o diabo está certo.
Ainda a respeito da alegação de que o tormento eterno é oposto ao amor
de Deus, respondo que Deus preferiu nos dar Seu Filho Unigênito para nos livrar
do Inferno, a diminuir o castigo devido ao pecado.
A eternidade da pena do pecado santifica o nome de Deus, pois evidencia
que Ele não compactuou com o pecado, deixando de puni-lo a altura de seus
méritos.
Deus não precisa afrouxar a pena do pecado para demonstrar o Seu amor
por nós, visto que o Seu infinito amor já se descortinou no Calvário (Rm 5.8).
Os horrores do tormento eterno provam o valor do sacrifício de Jesus. A
grandeza de um livramento é proporcional ao tamanho do perigo do qual se
livrou. São os livramentos das grandes catástrofes que, geralmente, nos deixam
grandemente emocionados. Quando nos livramos de um pequeno inconveniente, não
nos emocionamos muito. Assim podemos perceber quão grande é o livramento que
Jesus nos deu! Ele nos livrou dos horrores eternos! Logo, infinito é o valor do
seu sacrifício por nós! O sacrifício é de valor infinito porque o sacrificado
infinito é, pois se trata do sacrifício do Deus-Homem. Este sacrifício infinito
se fez necessário porque a pena é infinita. A pena é infinita porque o pecado é
crime cuja hediondez é infinita. E o pecado é crime de hediondez infinita
porque infinito é o Deus contra o qual pecamos. Este Deus, por ser
infinitamente justo, lavrou uma sentença infinita. E por ser infinitamente bom,
provê salvação infinita, através do sacrifício de preciosidade infinita, a
todos os que arrependidos aceitam a graça infinita, oriunda do hediondo
espetáculo da Cruz de Cristo (Lc 23.48). Espetáculo este de valor infinito.
Deste modo, o sacrifício infinito prova que a pena é infinita, pois do
contrário seria desperdício. E a pena infinita prova o valor infinito do
sacrifício, pois de outro modo seria insuficiente, isto é, por não ser
correspondente, não substituiria o pecador; e, portanto, não quitaria a dívida
contraída por nós.
É possível concluir que Cristo não pregou o suplício eterno? Já sabemos
que Kardec respondia positivamente a esta pergunta, mas essa postura não condiz
com os fatos. A Bíblia (o Livro ao qual Kardec amiúde recorria no intuito de
provar não sei o quê), muito longe de lhe ser solidária, o refutava.
Ser ou não ser cristão, é possível; mas é impossível ser espírita e
cristão simultaneamente. Conheço muitos cristãos, bem como inúmeros espíritas,
mas cristão-espírita ou espírita-cristão, eu ainda não vi, sequer, um.
Do exposto neste capítulo, o Inferno está justificado, Deus não é
desonrado por isto, Jesus é exaltado, e os kardecistas que se cuidem.
A nossa mente finita, muito aquém da de Deus, não consegue entender a
coexistência do inegável e demonstrado amor de Deus, com a pena eterna, mas
Deus nos deu prova cabal de que os dois (o amor de Deus e o Inferno) existem. O
sacrifício de Cristo para nos salvar do Inferno prova duas coisas ao mesmo
tempo: Deus é amor e o Inferno existe.
E não venham com essa de que “a morte de Cristo não foi expiatória,
mas apenas um exemplo de amor, cujo objetivo era despertar na humanidade um
maior interesse à prática do bem, acelerando deste modo o nosso processo
evolutivo em direção à perfeição”, porquanto essa doutrina é estranha ao
Cristianismo, do qual vocês se dizem adeptos; sendo, portanto, oriunda, ou da
cabeça de Allan Kardec, ou dos demônios que consigo se comunicavam, ou de
ambos. E ambas as fontes são espúrias. A Bíblia é confiável em matéria de fé, e
se não, pergunto: Por que vocês não param então de citar referências bíblicas
(textos isolados que vocês julgam apoiá-los) em abono às suas doutrinas? Se a
Bíblia é confiável, parem de pregar essa salvação barata que pode ser comprada
com boas obras e sofrimentos, e proclamem a eficácia do sangue de Jesus (I Jo.
1:7); se não, queiram, por favor, abandoná-la. Fazendo isso, o Kardecismo será
menos incoerente e não levará para o inferno pessoas bondosas, sinceras e
inteligentes que, não obstante, por essa seita se deixam levar. Os milhões de
kardecistas espalhados pelo mundo afora, constituem prova de quão sutil é o
kardecismo. Ele é diabólico, mas muito parecido com Satanás, aparenta-se com
algo bom ou inofensivo, ou seja, ele é a cara do pai.
Do que acabamos de expor neste capítulo, o Inferno é uma questão de
justiça; e a cruz de Cristo, uma mescla de justiça e graça. Não raramente os
kardecistas afixam nos seus carros um adesivo com o seguinte texto: “Reencarnação,
uma questão de justiça”. Que tal distribuirmos adesivos com textos mais ou
manos assim: “Inferno: Uma questão de justiça”; “Cruz de Cristo, uma
questão de graça”; “Cruz de Cristo, uma questão de justiça e graça”;
ou ainda: “Cruz de Cristo, uma mescla de justiça e graça”.
Extraído do livro O
ESPIRITISMO KARDECISTA, E SUAS INCOERÊNCIAS – Pr. Joel Santana